Entrevista Publicada dia 08/08/2012 às 10h34 por Sérgio Simka, do Portal Mauá e Região
A nossa coluna traz hoje uma entrevista exclusiva com Flavio Felicio Botton, que é professor, escritor e dono de uma editora.
O professor Flavio Botton é mestre em Literatura Portuguesa pela USP e docente de Literatura Portuguesa, Teoria Literária e História da Arte da UniABC. É autor de Que enigma havia em teu seio: ensaios sobre artes plásticas e literatura e do prefácio intitulado: "Entre a literatura e a história: a dramaturgia de Castro Alves”, estudo sobre a peça de Castro Alves, Gonzaga ou a revolução de Minas, ambos publicados pela Editora Todas as Musas (http://www.todasasmusas.org/).
Sérgio Simka - Portal Mauá e Região: Fale um pouco sobre o seu livro “Que Enigma Havia em Teu Seio”.
Flavio Botton: Lecionando
literatura, acabei me interessando por artes plásticas e verificando a
grande ferramenta que a pintura pode ser para o professor de literatura e
de história. O interesse cresceu e tornou-se paixão. E ela foi tão
intensa que passei a lecionar História da Arte para os cursos de
História, Publicidade e Arquitetura.
Eu
observava pinturas, procurava analisá-las e, a cada nova descoberta,
ficava ainda mais surpreso com a arte. Por isso, quis compartilhar essas
descobertas e essas grandes surpresas com as pessoas. Então, alguns
desses momentos mágicos de descoberta tornaram-se textos para que eu
pudesse registrá-los e compartilhá-los com os outros interessados pela
arte.
É
isso que o livro faz. Ele tenta ser o guia do leitor em um museu
imaginário e, ao chegar à frente de um quadro, conta histórias que
procuram tornar a obra algo mais compreensível e ainda mais fantástico
do que ela já é. O “passeio” inclui nomes muito conhecidos como
Caravaggio, Michelangelo e Leonardo da Vinci e outros que irão
surpreender o leitor, como o padre Filippo Lippi.
Sérgio Simka: Conte-nos como é a experiência de ser editor.
Flavio Botton: A
editoração tem sido uma experiência maravilhosa. Conheci pessoas
fantásticas e consegui concretizar para elas aquilo que todo escritor e
pesquisador almeja, tornar seus estudos e a sua produção acessíveis a
todos. Tive o prazer de entregar a vários autores o primeiro exemplar de
seus livros e, diversas vezes, a emoção do autor era visível nos olhos
cheios de lágrimas, no riso incontido ou na cabeça que balançava sem
parar, como se ele não estivesse acreditando que tinha o sonho realizado
nas próprias mãos, em formato de livro. A emoção de editar é tão
intensa que tenho tratado os livros com se eu os tivesse escrito e me
emociono com o autor, ao vê-los impressos pela primeira vez.
Sérgio Simka: Como teve a ideia de abrir uma editora?
Flavio Botton: A
ideia surgiu do amor pelos livros, os objetos mais sensacionais que o
homem já criou, e, como tenho a saudável mania de transformar paixão em
trabalho, nasceu a Editora Todas as Musas, dedicada a publicar trabalhos
de professores e pesquisadores, tanto na área de especialidade de seu
estudo, como na ficção, seja poesia, conto ou romance.
Sérgio Simka: Quais sãos as maiores dificuldades que encontra para publicar?
Flavio Botton: As
dificuldades estão cada vez menores, pois o maior entrave para as
pequenas editoras sempre foi a distribuição em livrarias, possível
apenas para quem imprime livros em quantidades muito grandes. Com a
internet e a impressão digital em pequenas tiragens, podemos fazer o
livro e o interessado, esteja onde estiver, em qualquer parte do mundo,
vai achá-lo pela rede mundial de computadores.
Há
algum tempo, era impossível para um professor publicar o seu próprio
livro, mas agora, com a publicação sob demanda e com o auxílio de uma
editora, realizar esse sonho com um excelente resultado final está cada
vez mais fácil, muito mais fácil do que as pessoas imaginam. Para
aqueles que têm um “livro na cabeça”, com pouco esforço ele “vai para o
papel”.
Sérgio Simka: Se alguém deseja publicar por sua editora, quais são os procedimentos que a pessoa precisa seguir? Há algum pré-requisito?
Flavio Botton: Basta
entrar em contato pelo e-mail todasasmusas@gmail.com e enviar o
trabalho. A partir daí, estudamos a viabilidade e os custos da
editoração e o autor verá como o sonho de publicar o seu livro está mais
próximo do que ele pensava. O único pré-requisito é ser professor (de
todos os níveis) ou pesquisador (especialista, mestrando, mestre,
doutor, doutorando). Publicamos teses e dissertações, mas temos também
professores poetas, que dão vazão as suas criações conosco.
Sérgio Simka: Acredita em inspiração para escrever?
Flavio Botton: Acredito
que só os inspirados escrevem. Mas depois da primeira inspiração é
preciso muito trabalho para transformar o texto em um bom texto, digno
de ser compartilhado. O latino Horácio propunha que, após escrito, um
texto ficasse por dez anos na gaveta. Após isso, o autor o retiraria de
lá e o leria novamente. Se ainda gostasse dele, poderia publicá-lo.
Claro que é uma brincadeira e que não precisamos chegar a tanto, mas
refletir e retrabalhar uma primeira redação de um texto pode torná-lo
muito mais interessante.
Sérgio Simka: Para você, o que significa ser escritor?
Flavio Botton: Quando
comecei a escrever, não pensava em publicar. Apenas depois de muito
tempo a publicação e o compartilhar dos escritos começou a acontecer. Só
então entendi o que quer dizer “necessidade de escrever”. É isso que dá
forma ao escritor, a necessidade inexplicável de colocar as coisas no
papel. É um chavão, mas é muito real.
Sérgio Simka: Uma mensagem aos que desejam se lançar no mundo editorial.
Flavio Botton: Se
você sente essa necessidade de colocar as coisas no papel e de
publicá-las, não deixe que ninguém interfira e diminua o que você
escreve, siga em frente e mostre seu trabalho. O pintor Edouard Manet
dizia que “é preciso fazer-se notar”, mas não no sentido banal de se
mostrar simplesmente como os participantes de um reality show. O
que ele queria dizer é que todos podemos achar o nosso público, alguém
que sinta as coisas como nós sentimos e que se interesse pelas coisas
que também nos interessam. Esse será o seu público e com ele você se
dará bem, mas é preciso encontrá-lo antes.
Por Sérgio Simka - Portal Mauá e RegiãoLink original da entrevista:
http://portalmauaeregiao.com.br/ver_coluna/28/Todas_as_Musas.html
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